Pular para o conteúdo principal

COMEÇA A POLITICAGEM BUSÓLOGA



As artimanhas do poder surgem na surdina. Poucos percebem. Crédulos surgem, achando que o grupo politiqueiro emergente representa "o novo", sem perceber se eles de fato defendem a justiça social ou o interesse público.

Há grupos políticos que defendem o interesse público, mas eles são raros e eventuais. Não é o caso dos que defendem a padronização visual dos ônibus, medida que na verdade é um carro-chefe de todo um processo politiqueiro de concentração de poder das Secretarias de Transporte, sob o pretexto de "disciplina" que foi o mesmo utilizado pelos generais quando instauraram a ditadura militar, em 1964. Alias, não é à toa, afinal os ônibus tornam-se fardados.

Aí, de repente, surgem defensores do nada, que tentam desqualificar discordâncias, porque sabem que vão ganhar alguma vantagem por trás de tal defesa. No Rio de Janeiro, costura-se uma aliança entre busólogos e autoridades, sobretudo nas pessoas do prefeito carioca Eduardo Paes e do governador fluminense Sérgio Cabral Filho, além de dirigentes esportivos e alguns empresários de ônibus envolvidos.

Diga-se alguns, porque a maioria dos empresários de ônibus está indignada, mas nada pode fazer. Afinal, a padronização visual é um projeto para turista ver, enquanto que essa conversa de que tal processo é "tendência mundial" não passa de uma grande lorota.

Tanto é uma lorota que Londres, a célebre capital inglesa e sede das Olimpíadas do próximo ano, que dava a falsa impressão de adotar a padronização visual nos seus ônibus, promove a diversificação visual nas suas empresas. Para quem duvida, melhor ir para este linque.

É evidente que surge aí um esquema de politicagem. Não vamos dar maiores detalhes, mas é a mesma coisa que aconteceu quando as elites da USP se ligaram a políticos vindos do MDB para compor o PSDB, se consistindo no grupo composto pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e o candidato derrotado à presidência da República, José Serra.

O mesmo PSDB que inventou Eduardo Paes. Que brigou com seu mentor político, César Maia, mas levou sua formação demotucana para o PMDB. E que costura sua base de apoio nas políticas elitistas, que apenas dão uma aparente impressão de eficácia administrativa.

Daí a concentração de poder da Secretaria de Transportes no sistema de ônibus carioca, claramente expresso no visual fardado em que a expressão "Cidade do Rio de Janeiro" aparece em destaque, em detrimento ao nome quase apagado de cada empresa envolvida (e que, dependendo do caso, é impossível de ser visto pessoalmente em certos ângulos de luz e, nas imagens de "jpg", "gif" e similares, torna-se totalmente irreconhecível).

Quando o plano arbitrário de Paes foi lançado - claramente inspirado no modelo que Jaime Lerner lançou em Curitiba, quando prefeito "biônico" (interventor nomeado pelos generais) no auge do governo militar - , o descontentamento foi praticamente geral. No entanto, alguns descontentes foram mudando suas posturas, de maneira tendenciosa.

Essa adesão não foi porque o projeto demonstrou ser mais vantajoso. Não é. Nem para os passageiros, que terão dificuldades de identificar cada ônibus que irão pegar, nem para os empresários, que até para promover a imagem de suas empresas perderão a chance. Tanto que as empresas de ônibus cariocas custam a repintar seus ônibus, na esperança de que alguma medida judicial cancele a padronização, que tirará a liberdade operacional das empresas de ônibus.

O problema é que, num processo de politicagem, alguns defensores de privilégios e de poder concentrado - nem sempre assumem tais intuitos - têm que cercar de adeptos e defensores, por isso em cerimônias eles têm que tratar bem os busólogos, para assim conquistarem seguidores. Ninguém consegue privilégios de poder sem ter uma base de apoio.

Tudo visando a aparência de eficácia, pouco importando o sofrimento de passageiros, principalmente idosos e deficientes. A dificuldade de reconhecimento dos ônibus será bem maior, e isso não é conversa de infantil, desinformado ou retardado.

Afinal, os ônibus só serão reconhecidos quando os passageiros estiverem nos pontos e virem os ônibus de frente, mas se eles estiverem a uma distância de pelo menos cem metros, não vai dar para os passageiros correrem atrás, porque não saberão qual será o ônibus certo, com tantos ônibus visualmente parecidos.

Isso é fato. Mas quem está com as elites não quer saber de lógica, nem de ética, nem de coerência, nem de coisa alguma a não ser qualquer pretexto que justifique sempre o que é estabelecido e decidido de cima, o que está pré-determinado é o que vale, pouco importa se os cidadãos sofrem ou não, embora em tese eles sejam "beneficiados", o que é pura falácia.

Em mais de um século de existência, somente agora os ônibus do Rio de Janeiro começam a viver seus tempos de "República Velha".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O site Companhia do Ônibus do Sidney Jr voltou!

      Após quase seis meses fora do ar, o site Cia de ônibus , do nosso amigo Sidney Junior voltou. Foram muitos os pedidos pelo seu retorno, o que foi prontamente atendido pelo autor do site. Vale lembrar que fizemos uma matéria sobre recuperação e downloads de sites extintos , onde este foi citado, uma vez que naquela ocasião, onde ele era considerado extinto, porém felizmente ressuscitou.         Sobre o Cia de Ônibus , é um site que conta através de fotos a história do transporte rodoviário do estado do Rio de Janeiro. Este possui um rico acervo formado por coleções do próprio autor, de pesquisadores e busólogos parceiros, alguns falecidos, como o saudoso Paulão, por exemplo.        Muita gente dizia que ele havia tirado o site por não concordar assim como nós do Fatos Gerais e amigos nossos, com a uniformização visual. De fato, Sidney Junior é contra a mesma e jamais a aceitou , porém nunca se confirmou se a  retirada do site foi de fato por conta disso, até por

EXIBIR LOGOTIPOS PEQUENOS NÃO RESOLVE PROBLEMAS NA PINTURA PADRONIZADA

As reclamações em torno de confusão e omissão das identidades das empresas de ônibus na pintura padronizada não são resolvidas com a simples exibição de logotipos de empresas nas latarias e janelas dos ônibus, assim como seus nomes nos letreiros digitais. A pouca informação das autoridades, que raciocinam o que chamam de "interesse público" através de simulações distantes da realidade através de programas de computador (Excel, Photoshop, Photopaint ou mesmo jogos como TheSims), não percebe que colocar logotipos de empresas de ônibus não diminui a confusão causada pela pintura padronizada. Os logotipos de empresas não raro se perdem ao lado de logotipos de consórcios e de órgãos municipais ou metropolitanos e, além disso, na correria do dia a dia, as pessoas, ocupadas nos seus afazeres, não vão ficar paradas para diferir uma empresa de outra. Se pararem, perderão o ônibus e poderão até se atrasar no trabalho. No caso dos letreiros digitais, a alternância de informaçõe

RETIRADA DE VEÍCULOS DE PISO BAIXO REVELA ESGOTAMENTO DO SISTEMA DE ÔNIBUS DE 2010 NO RJ

Estão sendo retirados os ônibus de piso baixo que circulavam no Grande Rio, principalmente nas empresas municipais, cerca de um mês depois do encerramento total dos jogos olímpicos de 2016. Só a Transportes São Silvestre anunciou que se livrará de sua frota especializada de CAIO Mondego e CAIO Millennium BRT. Os veículos são muito modernos para a modernidade tecnocrática e autoritária que domina o setor de transporte público, mas ecoa também numa minoria de busólogos reacionários que se comportam, nas mídias sociais, como se vivessem nos tempos do carro-de-boi, preferindo bajular políticos que lançam medidas impopulares do que pensar na realidade do público passageiro. Os veículos de piso baixo são caros, mas funcionais. Com motor traseiro, possuem um acesso com piso na altura da calçada, permitindo que pessoas com limitações na locomoção pudessem entrar nos ônibus sem dificuldade. Das empresas intermunicipais, a Auto Viação 1001 também se livrou de CAIO Mondego, não bastasse