OS ÔNIBUS "IGUAIZINHOS" CONFUNDIAM OS PASSAGEIROS E O ESCONDE-ESCONDE VISUAL DAS EMPRESAS NÃO GARANTIA TRANSPARÊNCIA NO SERVIÇO.
Demorou, mas veio. O anunciado fim da pintura padronizada nos ônibus foi anunciado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcello Crivella, segundo notícia veiculada no jornal Extra. O esconde-esconde das empresas de ônibus, que por pouco não se estendeu ao sistema do DETRO, será desfeito aos poucos.
Segundo Crivella, a próxima compra de 150 novos ônibus já virá com a novidade de ter variação de cor por cada empresa. Essa renovação ocorrerá num prazo de 90 dias e a pintura padronizada tem prazo de desaparecer até 2020.
Os novos ônibus também virão com serviço de Wi-Fi e carregador de celular - medida que causa controvérsia na população, devido aos assaltos nos ônibus - e o fim da pintura padronizada pode em breve afetar diretamente os sistemas de ônibus de Niterói, São Gonçalo e Nova Iguaçu, cidades do Grande Rio que também adotaram a medida.
Não se sabe qual o impacto que o fim da pintura padronizada terá no resto do Brasil. Provavelmente, essa medida também poderá refletir em cidades que recentemente imitaram a iniciativa carioca, como Recife, Florianópolis e, no Estado do Rio de Janeiro, Campos, Teresópolis e algumas cidades da Região dos Lagos (Araruama e Cabo Frio).
A pintura padronizada foi imposta, sem consultar a população e com uma votação parlamentar "às escuras", pelo prefeito Eduardo Paes e seu secretário de Transportes, o tecnocrático Alexandre Sansão. A medida, oriunda da ditadura militar, está em velhos paradigmas de transporte e mobilidade urbanas trazidos pelo prefeito biônico de Curitiba, o também arquiteto Jaime Lerner, hoje apoiador do governo Michel Temer.
A medida do prefeito Paes foi feita visando chamar a atenção do turismo durante os eventos esportivos da Copa de 2014 (sediada no Brasil e, em parte, no Rio de Janeiro) e nas Olimpíadas Rio 2016. A ideia era fazer uma propaganda da Prefeitura do Rio de Janeiro através do outdoor político da pintura padronizada, em que o nome da cidade aparecia com mais destaque do que o da empresa de ônibus.
A medida foi impopular desde o começo, mas havia uma certa resignação da população. Uma minoria de busólogos do Rio de Janeiro passou a defender a medida e usou as redes sociais para forçar um apoio maior aos ônibus padronizados (definidos pelas iniciais PP - pintura padronizada), sem medir escrúpulos em escrever ofensas violentas e até ameaças.
Uma parcela de busólogos influentes se desmoralizou com esse abuso moral. Um deles chegou a criar um blogue de ofensas intitulado "Comentários Críticos", que saiu do ar depois de denunciado ao portal SaferNet (que recebe denúncias de crimes virtuais). O suspeito de fazer esse blogue tentou, sem sucesso, promover uma caravana de busologia, mas, desmoralizado, teve que cancelar o evento e tirar satisfações com a empresa que seria contratada.
Era comum essa parcela, arrogante e agressiva, o que antecipou a onda de ódio na Internet em relação a diversos outros assuntos, usar comentários clichês. Xingações contra quem discordava dessa minoria geralmente usavam a expressão "seu m****" ou "viúvas de latas de tinta".
A agressividade desses busólogos - que chegaram a invadir uma petição contra a pintura padronizada para despejar comentários grosseiros e baixarias ofensivas - repercutiu no país e frustrou outros movimentos busólogos, que passaram a ver nos busólogos cariocas um "bando de brigões". O vitimismo fingido dos busólogos agressores não convenceu e hoje a busologia repercute mais com adeptos mais novos, desprovidos da intolerância de alguns veteranos.
A pintura padronizada também não foi incluída na pauta de protestos do Movimento Passe Livre, que perdeu a oportunidade de usar esse problema para se projetar. Com isso, o MPL se enfraqueceu, na mera luta prosaica das passagens de ônibus, sem saber que, com a pintura padronizada ocorre o risco de pegar o ônibus errado e, numa cidade com trânsito congestionado que é o Rio de Janeiro, nem o Bilhete Único salva.
Um exemplo é que, se a passagem de ônibus deixa de custar R$ 3,80 para voltar a ser R$ 3,40, a pintura padronizada traz o risco do alto custo, pois, pegando um ônibus errado e perdendo o tempo do Bilhete Único, a passagem será de R$ 6,80, duas vezes R$ 3,40, não adiantando pedir a redução da tarifa. Diante dessa omissão de causa, o Movimento Passe Livre foi ultrapassado pelo seu clone, mais canastrão porém com mais visibilidade, o Movimento Brasil Livre.
Diante desses incidentes, a pintura padronizada ainda tentou prevalecer quando a mídia tentava inserir os ônibus com embalagem de remédio na paisagem carioca. O visual - que lembra a embalagem do remédio Buscopan - também mostrava um aspecto de sujo e velho, devido à cor cinzenta do fundo.
A pintura padronizada fez as relações entre empresas de ônibus e consumidores se tornarem confusas, além de criar uma crise de responsabilidade. Afinal, ninguém conseguia saber se os ônibus eram administrados pelo Estado ou por empresas particulares, e uns acusavam outros de influir pela decadência do setor.
Outro aspecto a considerar é que a pintura padronizada representou violações da lei, influindo em infrações previstas pela Lei de Licitações (8.666/93), com a concessão de transporte público não refletindo na identificação visual de empresas concessionárias e pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) na qual se aproveitava da desinformação da população para impor pintura padronizada em troca de supostos benefícios (como ônibus articulados e pistas exclusivas para BRT).
Há também o caso da poluição visual que, desmentindo a queixa do então prefeito Eduardo Paes - que a diversidade visual "poluía" visualmente o Rio de Janeiro - , se reflete na pintura padronizada, onde em muitos casos há excesso de logotipos - do consórcio, do poder político correspondente, da secretaria, do tipo de ônibus etc - que "poluem" os ônibus, como no caso da cidade de São Paulo.
Ou então há o aumento de custos de transferência de ônibus de uma mesma empresa de um sistema de linhas para outro, causando burocracia e gastos desnecessários de plotagem só para transferir, por exemplo, ônibus semi-novos de linhas intermunicipais para municipais. Na Grande Belo Horizonte, uma mesma empresa pode ter até seis pinturas diferentes, o que já causou problemas na transferência de carros semi-novos de algumas linhas para outras.
Com o padrão de sistema de ônibus imposto em 2010 - que incluiu também a dupla função do motorista-cobrador e o esquartejamento de itinerários visando a supervalorização do Bilhete Único e as baldeações que faziam perder tempo e forçar o passageiro a viajar em pé no segundo ou terceiro ônibus - , os acidentes de ônibus aumentaram assustadoramente, causando dezenas de mortos e centenas de feridos. Até uma produtora da TV Globo morreu atropelada por um ônibus.
Crivella pretende desfazer esse modelo, aos poucos. Há uma ação judicial pedindo para que a dupla função do motorista-cobrador seja cancelada, o que está causando muita polêmica pelo fato de que isso irá influir nos preços das passagens.
Há muito o que fazer, mas o fim da pintura padronizada já será um avanço. E tende a ser, mesmo a longo prazo, o fim de uma visão, ainda dominante mas originária da ditadura militar, que vende como "verdade absoluta" a ilusão de que o sistema de ônibus só evolui em função de um visual único imposto pelo poder público e com ênfase no logotipo de governos municipais e estaduais.
Demorou, mas veio. O anunciado fim da pintura padronizada nos ônibus foi anunciado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Marcello Crivella, segundo notícia veiculada no jornal Extra. O esconde-esconde das empresas de ônibus, que por pouco não se estendeu ao sistema do DETRO, será desfeito aos poucos.
Segundo Crivella, a próxima compra de 150 novos ônibus já virá com a novidade de ter variação de cor por cada empresa. Essa renovação ocorrerá num prazo de 90 dias e a pintura padronizada tem prazo de desaparecer até 2020.
Os novos ônibus também virão com serviço de Wi-Fi e carregador de celular - medida que causa controvérsia na população, devido aos assaltos nos ônibus - e o fim da pintura padronizada pode em breve afetar diretamente os sistemas de ônibus de Niterói, São Gonçalo e Nova Iguaçu, cidades do Grande Rio que também adotaram a medida.
Não se sabe qual o impacto que o fim da pintura padronizada terá no resto do Brasil. Provavelmente, essa medida também poderá refletir em cidades que recentemente imitaram a iniciativa carioca, como Recife, Florianópolis e, no Estado do Rio de Janeiro, Campos, Teresópolis e algumas cidades da Região dos Lagos (Araruama e Cabo Frio).
A pintura padronizada foi imposta, sem consultar a população e com uma votação parlamentar "às escuras", pelo prefeito Eduardo Paes e seu secretário de Transportes, o tecnocrático Alexandre Sansão. A medida, oriunda da ditadura militar, está em velhos paradigmas de transporte e mobilidade urbanas trazidos pelo prefeito biônico de Curitiba, o também arquiteto Jaime Lerner, hoje apoiador do governo Michel Temer.
A medida do prefeito Paes foi feita visando chamar a atenção do turismo durante os eventos esportivos da Copa de 2014 (sediada no Brasil e, em parte, no Rio de Janeiro) e nas Olimpíadas Rio 2016. A ideia era fazer uma propaganda da Prefeitura do Rio de Janeiro através do outdoor político da pintura padronizada, em que o nome da cidade aparecia com mais destaque do que o da empresa de ônibus.
A medida foi impopular desde o começo, mas havia uma certa resignação da população. Uma minoria de busólogos do Rio de Janeiro passou a defender a medida e usou as redes sociais para forçar um apoio maior aos ônibus padronizados (definidos pelas iniciais PP - pintura padronizada), sem medir escrúpulos em escrever ofensas violentas e até ameaças.
Uma parcela de busólogos influentes se desmoralizou com esse abuso moral. Um deles chegou a criar um blogue de ofensas intitulado "Comentários Críticos", que saiu do ar depois de denunciado ao portal SaferNet (que recebe denúncias de crimes virtuais). O suspeito de fazer esse blogue tentou, sem sucesso, promover uma caravana de busologia, mas, desmoralizado, teve que cancelar o evento e tirar satisfações com a empresa que seria contratada.
Era comum essa parcela, arrogante e agressiva, o que antecipou a onda de ódio na Internet em relação a diversos outros assuntos, usar comentários clichês. Xingações contra quem discordava dessa minoria geralmente usavam a expressão "seu m****" ou "viúvas de latas de tinta".
A agressividade desses busólogos - que chegaram a invadir uma petição contra a pintura padronizada para despejar comentários grosseiros e baixarias ofensivas - repercutiu no país e frustrou outros movimentos busólogos, que passaram a ver nos busólogos cariocas um "bando de brigões". O vitimismo fingido dos busólogos agressores não convenceu e hoje a busologia repercute mais com adeptos mais novos, desprovidos da intolerância de alguns veteranos.
A pintura padronizada também não foi incluída na pauta de protestos do Movimento Passe Livre, que perdeu a oportunidade de usar esse problema para se projetar. Com isso, o MPL se enfraqueceu, na mera luta prosaica das passagens de ônibus, sem saber que, com a pintura padronizada ocorre o risco de pegar o ônibus errado e, numa cidade com trânsito congestionado que é o Rio de Janeiro, nem o Bilhete Único salva.
Um exemplo é que, se a passagem de ônibus deixa de custar R$ 3,80 para voltar a ser R$ 3,40, a pintura padronizada traz o risco do alto custo, pois, pegando um ônibus errado e perdendo o tempo do Bilhete Único, a passagem será de R$ 6,80, duas vezes R$ 3,40, não adiantando pedir a redução da tarifa. Diante dessa omissão de causa, o Movimento Passe Livre foi ultrapassado pelo seu clone, mais canastrão porém com mais visibilidade, o Movimento Brasil Livre.
Diante desses incidentes, a pintura padronizada ainda tentou prevalecer quando a mídia tentava inserir os ônibus com embalagem de remédio na paisagem carioca. O visual - que lembra a embalagem do remédio Buscopan - também mostrava um aspecto de sujo e velho, devido à cor cinzenta do fundo.
A pintura padronizada fez as relações entre empresas de ônibus e consumidores se tornarem confusas, além de criar uma crise de responsabilidade. Afinal, ninguém conseguia saber se os ônibus eram administrados pelo Estado ou por empresas particulares, e uns acusavam outros de influir pela decadência do setor.
Outro aspecto a considerar é que a pintura padronizada representou violações da lei, influindo em infrações previstas pela Lei de Licitações (8.666/93), com a concessão de transporte público não refletindo na identificação visual de empresas concessionárias e pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) na qual se aproveitava da desinformação da população para impor pintura padronizada em troca de supostos benefícios (como ônibus articulados e pistas exclusivas para BRT).
Há também o caso da poluição visual que, desmentindo a queixa do então prefeito Eduardo Paes - que a diversidade visual "poluía" visualmente o Rio de Janeiro - , se reflete na pintura padronizada, onde em muitos casos há excesso de logotipos - do consórcio, do poder político correspondente, da secretaria, do tipo de ônibus etc - que "poluem" os ônibus, como no caso da cidade de São Paulo.
Ou então há o aumento de custos de transferência de ônibus de uma mesma empresa de um sistema de linhas para outro, causando burocracia e gastos desnecessários de plotagem só para transferir, por exemplo, ônibus semi-novos de linhas intermunicipais para municipais. Na Grande Belo Horizonte, uma mesma empresa pode ter até seis pinturas diferentes, o que já causou problemas na transferência de carros semi-novos de algumas linhas para outras.
Com o padrão de sistema de ônibus imposto em 2010 - que incluiu também a dupla função do motorista-cobrador e o esquartejamento de itinerários visando a supervalorização do Bilhete Único e as baldeações que faziam perder tempo e forçar o passageiro a viajar em pé no segundo ou terceiro ônibus - , os acidentes de ônibus aumentaram assustadoramente, causando dezenas de mortos e centenas de feridos. Até uma produtora da TV Globo morreu atropelada por um ônibus.
Crivella pretende desfazer esse modelo, aos poucos. Há uma ação judicial pedindo para que a dupla função do motorista-cobrador seja cancelada, o que está causando muita polêmica pelo fato de que isso irá influir nos preços das passagens.
Há muito o que fazer, mas o fim da pintura padronizada já será um avanço. E tende a ser, mesmo a longo prazo, o fim de uma visão, ainda dominante mas originária da ditadura militar, que vende como "verdade absoluta" a ilusão de que o sistema de ônibus só evolui em função de um visual único imposto pelo poder público e com ênfase no logotipo de governos municipais e estaduais.
Onde que ele disse isso? Parem de postar coisas sem fontes seguras! O que vai acontecer é uma nova padronização com mais opções de cores...
ResponderExcluirO texto se baseia em reportagem do jornal Extra e Crivella afirmou que VÃO VOLTAR os ônibus com visual próprio de cada empresa. Procure pesquisar pelo Google.
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