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Pra mim, mobilidade urbana é tirar o excesso de carros das ruas

Mobilidade urbana virou a expressão da moda. Quando mencionada, passa a ideia daquelas vias largas, com aqueles articulados, tudo lindo, florido e aparentemente organizado. Uma beleza.

Mas se esquecem que mobilidade significa facilitar o deslocamento. E que a medida mais importante a fazer é desestimular o uso do automóvel. Tarefa muito mais difícil do que colocar uns articulados para desfilarem alegremente diante das autoridades da FIFA (aquela entidade mundial que controla o principal narcótico que vicia a população brasileira).

O automóvel é um símbolo de status social. Quem o utiliza tem a ilusão de ser uma pessoa melhor que as outras. Sem falar que o automóvel proporciona uma relativa privacidade que é impossível obter num transporte coletivo. As pessoas não querem abrir mão disso.

Colunista social defende priorização dos automóveis

Para piorar, a classe dominante não anda de transporte coletivo. Ela não vai querer largar esse privilégio. Numa revista encartada em um jornal de Niterói, li numa coluna social (como são conhecidas as seções onde se vê um bando de burgueses desconhecidos estampando seus sorrisos falsos e suas roupas caras em fotos, desperdiçando o espaço que deveria ser de coisas bem mais importantes), uma declaração do responsável pedindo que a faixa de ônibus da Avenida roverto Silveira seja reduzida para uma, aumentando para quatro as faixas de automóveis. O desinformado ainda argumentou que com a chegada doa articulados haveria  a redução de ônibus.

Aviso a ele que a prefeitura desistiu dos articulados e a redução da frota não será tão drástica. Acrescento ao distinto colunista que o objetivo dos projetos de mobilidade urbana é - ou deveria ser - dificultar o trânsito de carros particulares, numa tentativa de estimular o cidadão a usar o transporte coletivo. Ou seja, quem deveria ser reduzido é o número de automóveis, não o de ônibus, como disse o porta voz da classe abastada.

Outro sujeito, desta vez no jornal O Globo, defendeu a construção de um viaduto em cima da Alameda São Boaventura. Há também uma campanha para a não derrubada do viaduto da Perimetral, que transformou a zona portuária num medonho calabouço digno de filmes de terror e de suspense. Em todos os casos, como no do colunista social, pedem a manutenção do tráfego de veículos particulares.

Fica difícil combater uma ideia arraigada de que o carro é a extensão do ser humano. A lei que garante o direito de ir e vir (como quiser) e as propagandas de automóveis reforçam ainda mais as reivindicações para a circulação desse excesso de carros, levando qualquer projeto de mobilidade  ao inevitável fracasso.

Todo o projeto deveria levar em conta a diminuição de carros nas ruas, mas acima de tudo, a educação, desde a mais tenra infância, deve colocar nas cabeças dos jovens cidadãos que automóvel não é status, não melhora ninguém e que seu excesso só atrapalha a vida dos outros. Que o transporte coletivo é o ideal para o cotidiano, deixando o automóvel reservado apenas nas situações onde ele é realmente necessário, quando o transporte coletivo não puder satisfazer tal necessidade.

Burrice querer usar carro toda a hora com a desculpa de status e de conforto. E é confortável ficar parado num engarrafamento sem fazer nada e perdendo a oportunidade de chegar pontualmente a qualquer compromisso?

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