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CONCENTRAÇÃO DE GRUPOS EMPRESARIAIS AMEAÇA EMPRESAS HISTÓRICAS


Rio Minho, (Auto Ônibus) Alcântara. Útil, Sampaio, Federal, Real Expresso, Brisa. São icônicas empresas de ônibus, queridas por muitos busólogos, que têm suas mortes anunciadas por conta de projetos de concentração de mercado de grupos empresariais, aumentando o poder dos empresários independente dessas extinções afetarem ou não as qualidades dos serviços.

A futura extinção das empresas Rio Minho e Alcântara é um efeito da fusão dos grupos empresariais da Viação Mauá e da Turismo Rio Ita, de São Gonçalo, que fez com que o grupo exercesse um forte monopólio empresarial no sistema de ônibus de São Gonçalo.

Em caráter interestadual, o que se nota é o crescimento vertiginoso da Expresso Guanabara, que é uma empresa forte há tempos no sistema de ônibus da Região Nordeste, com presença forte também em Estados do Centro-Oeste e parte do Norte do Brasil. Com uma presença modesta em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, o Grupo Guanabara, ao ceifar suas subsidiárias, se firmará como um dos grandes oligopólios de transporte rodoviário em todo o Brasil, atuando do Ceará ao Rio Grande do Sul. 

O Grupo Guanabara recebeu até um jingle, "Pega o Guanabara e Vem", um sucesso da música brega-popularesca no estilo "piseiro", cantada por Alanzim Coreano e o ídolo do gênero, Wesley Safadão. A música é muito divulgada em perfis busólogos nas redes sociais.

As duas tristes novidades ocorrem, por ironia, após a celebração dos 70 anos de surgimento da Viação Itapemirim, empresa capixaba que foi extinta em 2022 e que, aparentemente, foi reativada como um "nome de fantasia" da empresa Susantur, de Santo André, no ABC paulista. Enquanto busólogos discutem se a Itapemirim foi extinta ou não ou se a Nova Itapemirim é fake ou honra a antiga história, marcas como Rio Minho e Útil, de memória afetiva tão intensa entre seus passageiros, podem vir a desaparecer sem chance de alguma retomada por algum outro grupo empresarial.

Aqui abrimos uns parênteses para uma comparação. A Viação Itapemirim, com toda a polêmica que a cerca, consegue fazer um trabalho exemplar e admirável de recuperação de ônibus usados e de gradual renovação das frotas, operando as antigas linhas da empresa capixaba sem ter mais o vínculo jurídico com a histórica empresa. Em termos jurídicos, a Itapemirim foi mesmo extinta em 2022, mas a Justiça permitiu que a Susantur, sob nova identidade jurídica, usasse a mesma marca para a Nova Itapemirim.

No rádio, os ouvintes do Rio de Janeiro tiveram o exemplo da Rádio Cidade que, apesar de ter se originado como uma simpática e criativa FM de pop eclético que se destacou no Brasil, cometeu, em 1995, mesmo mantendo o nome e a identidade jurídica e operacional, em concentrar seu perfil no segmento rock, por decisão pessoal de um executivo de rádio detentor da marca "Cidade", provavelmente por um ressentimento de ver uma outra rádio, a extinta Fluminense FM, se projetar no gênero nos anos 1980, com uma competência que a Cidade nem de muito longe conseguiu reproduzir. 

Sem ter um pessoal nem uma linguagem apropriadas para o gênero, e a emissora sucumbiu do dial FM, virando apenas uma web radio, depois que sua fase de "flash rock" de 2019-2021 misturasse clássicos do rock com as mesmas vinhetas alegres - uma delas é da voz de uma mulher sensual mencionando o nome da rádio - que, no passado, acompanhavam sucessos de nomes como Earth Wind & Fire, Bee Gees, Village People e Donna Summer. 

Soava muito estranho ouvir nomes como Iron Maiden e Deep Purple intercalados pelas mesmas vinhetas e pelos locutores pop que falavam como se fossem animadores de gincanas adolescentes. Não tinha como dar certo.

Essa comparação foge um pouco da proposta deste blogue de falar sobre transporte, mas ilustra o como o uso de uma mesma marca pode representar uma fuga de proposta ou de ação, entrando em conflito com a história de uma empresa ou instituição.

E se temos uma Itapemirim com essa situação controversa - levando em conta que a Susantur utiliza a marca mediante acordo de arrendamento previsto para, no máximo, dois anos - , empresas como Rio Minho, Útil e Real Expresso, só para citar as mais queridas dos busólogos, podem virar meras lembranças do passado.

O Grupo Mauá / Rio Ita avisou de sua intenção em substituir a Rio Minho pela Expresso Rio de Janeiro. A gonçalense Auto Ônibus Alcântara, que desde 2012 está proibida de utilizar sua identidade visual por conta da pintura padronizada imposta no sistema municipal, será absorvida pela Transportes Icaraí. A Rio Minho surgiu em 1961. Já a Auto Ônibus Alcântara, do contrário que muita gente inicialmente acreditou, tem uma personalidade jurídica diferente da antiga Expresso Alcântara, apesar do mesmo vínculo empresarial com a Mauá.

Já as empresas Útil (União Transporte Interestadual de Luxo), Real Expresso, Rápido Federal, Viação Sampaio e Brisa Ônibus desaparecerão para todas se transformarem na Expresso Guanabara, sediada em Fortaleza. A mudança já será facilitada pelo fato da numeração de frota ser unificada em todas as empresas envolvidas. Vários carros foram deslocados e uma empresa para outra sem alteração burocrática grande, como se vê no Busscar Vista Buss da Útil, carro 13108, que passou para a Real Expresso.

Sobre a frota fluminense, de fretamento, linhas estaduais e municipais cariocas, não há previsão sobre o destino da Útil (surgida em Petrópolis mas hoje sediada em Juiz de Fora, em Minas Gerais), se ela será absorvida pela empresa cearense ou se a Normandy, empresa do grupo que não foi anunciada no plano de cortes, passará a assumir tais serviços.

Com essas mudanças, o Estado do Rio de Janeiro será mais afetado na redução de empresas de ônibus rodoviários. Com as extinções da Sampaio e da Rio Minho, lembrando as antigas extinções de empresas como Valenciana e Salutaris (hoje juridicamente ainda existente, mas submetida à marca da capixaba Águia Branca), o sistema de ônibus fluminense acaba virando o foco das concentrações de grupos empresariais. E é irônico que marcas como "Expresso Guanabara" e "Expresso Rio de Janeiro", relacionadas à iconografia fluminense, prevaleçam neste contexto de expansão empresarial.

Mas resta torcer que a onda de concentrações de poder não se repita e que não percamos mais empresas icônicas de ônibus, até porque a concentração de poder e a expansão voraz de empresas de ônibus já contribuíram para a crise da Viação Itapemirim no passado.

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