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VALE A PENA ESCONDER EMPRESA DE ÔNIBUS EM NOME DA MOBILIDADE URBANA?

ACIDENTE DE ÔNIBUS EM CURITIBA - DECADÊNCIA DO SISTEMA.

O começo do governo de Michel Temer está demonstrando, em diversos aspectos, os cacoetes do fisiologismo político. Medidas autoritárias que são impostas sob o pretexto de "beneficiar a sociedade" e "atender ao interesse público", se apoiando de argumentos "técnicos" e prometendo "futuros ajustes para otimização".

No âmbito do transporte coletivo, a gente viu esse filme de terror e suspense através de Jaime Lerner, um político da ditadura militar tido falsamente como "futurista" e "progressista". quando ele lançou medidas impopulares como pintura padronizada nos ônibus, redução de frotas nas ruas, dupla função motorista-cobrador e redução de percursos de linhas de ônibus.

É até surreal que o mesmo motivo de queixas dos passageiros, as longas esperas por ônibus por conta da quantidade limitada de ônibus, seja aplaudido por uma estranha elite de busólogos, mais preocupada em ocupar assentos na Secretaria de Transportes ou na Assembleia Legislativa.

Já houve busólogo, no Rio de Janeiro, que anos atrás surtou como se um Eduardo Cunha (o deputado, não o admirável busólogo veterano) do setor, criando blogue de calúnias e ofendendo fulano e sicrano nas mídias sociais, fazendo trolagem usando fakes mas se passando por "bonzinho" e "correto" diante dos busólogos mais conceituados, quando defendia a pintura padronizada nos ônibus.

Isso revela um rol de irregularidades, num sistema político e tecnocrático viciado que temos, em que até o Judiciário prefere enxergar mais as conveniências políticas do que as leis. E mostra o contexto em que prevalece um sistema de ônibus que se baseia num ato sempre duvidoso de esconder a identidade visual das empresas.

As autoridades tentam argumentar, sem convencer, que a pintura padronizada "favorece a identificação". Alguns, de forma aberrante, falaram que a identidade da empresa está no código alfanumérico do veículo. Outros, pelo pequeno logotipo exibido em cada ônibus, na lataria ou na janela. Tudo isso de forma inverossímil e improcedente, mas típico da demagogia de quem arruma desculpa para qualquer coisa.

Isso não convence porque basta ver a prática cotidiana. Na correria do dia a dia, as pessoas não têm tempo de ver o logotipo da empresa de ônibus perdido entre tantos adesivos na janela da frente nem em saber, por exemplo, a diferença entre B75561 e B25561.

Só nas mentes reacionárias de certos busólogos é que há essa ideia de que o povo vai ficar perdendo tempo observando ônibus de forma demorada. Há outras ocupações na vida, sem aqui criticar a da busologia, até porque mesmo os busólogos têm outros empregos, têm contas a pagar e no dia dos pagamentos não dá para ficar parado tentando ver a diferença, numa cidade como São Gonçalo, entre uma Transportes Tanguá e uma Transportes Icaraí.

A verdade é que a pintura padronizada esconde empresa de ônibus, sim. No contexto da correria do trânsito, isso faz uma diferença negativa. As pessoas se confundem todas, isso é inegável, e faz com que essa medida não traga vantagem alguma.

A pintura padronizada nos ônibus é tecnicamente inviável, não é funcional, não traz transparência nem favorece a mobilidade. E é uma medida que remete à ditadura militar, com aquela lógica de botar uniforme ou farda, típico de regimes fascistas.

Negar tudo isso é negar o óbvio, negar um dos aspectos que contribuem para a decadência do sistema de ônibus porque a pintura padronizada, na medida em que esconde as empresas de ônibus, favorece a corrupção e a queda de qualidade de serviço. Muitas empresas aproveitam a pintura padronizada para mudar de nome, trocar de linha etc, sem que as pessoas tenham exata noção disso.

É certo que recuperar as identidades visuais de cada empresa não irá melhorar, por si, o sistema de ônibus, mas permitiria aos passageiros comuns reconhecer com mais facilidade uma empresa ruim. Já imaginou se, por exemplo, uma Turismo Trans1000 e uma Viação Nossa Senhora da Penha tivessem exatamente a mesma pintura? Seria muito mais difícil combater a Transmil.

Comentários

  1. Você está completamente errado, eu sou técnico em gestão da mobilidade urbana e digo que a padronização ajuda e muito o usuário, principalmente em sistemas tronco-alimentador integrados como o de Curitiba, lá, as pessoas não ligam pra empresa, ligam pro horário pra chegar em casa e sabem pra onde vai o ônibus apenas pela cor do serviço, e a reclamação irá pra Urbs que gerencia o sistema. Creio que seja melhor você conhecer outros sistemas de transporte ao invés de escrever tanta coisa irracional, ligar todos os problemas numa pintura de ônibus? Menos, né? Além disso Jaime Lerner foi um gênio na mobilidade urbana, tendo a sua ideia copiada por mais de 300 cidades em todo o mundo. Outra coisa, não há nada de ilegal numa padronização, visto que nunca ouvi falar em registro de empresas entrando na justiça contra isso, se a licitação foi aberta, a empresa deve respeitar o contrato, simples.

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    1. Senhor Diego, data Vênia sua posição de tecnoburocrata,por um acaso o nobre tecnocrata conhece a Lei nº 8987/95 e a Lei nº 8078/90? Saiba caro tecnocrata em mobilidade urbana, a Lei nº 8987/95 me dá direito de fiscalizar como usuário o serviço prestado pela empresa e neste caso com pintura única como vou reconhecer a pintura da empresa se ela tem todas a mesma píntura? No caso de Curitiba, se inventou uma baldeação para que a pessoa não tenha mais o direito de escolher que condução ela quer e é imposta a maldita baldeação e se uma pessoa que não é do local como vai identificar o itinerário? Por exemplo, a linha 996-Charitas x Gávea a pessoa reconhece que é prestada pela Viação 1001 então vindo um carro da 1001 se sabe que é o Charitas x Gávea e eu posso escolher a empresa que eu quero, já com a pintura padronizada como vou reconhecer a linha que eu quero pegar, como a "troncal12" ou "alimentadora 666". Essa conversa fiada de tecnocrata a favor da pintura única é coisa de quem nunca andou de ônibus todo dia e acha que usar o sistema de trens tem de ser a mesma coisa para ônibus, alias os consórcios no Rio de Janeiro viraram uma bagunça de empresa operando em linha que nunca operava diferente do pool que a linha é operada por duas empresas e existe a identificação de cada empresa para que a concorrencia melhorore a qualidade do serviço diferente do consórcio e com a pintura de cada empresa o usuário identifica e pode fiscalizar a empresa

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    2. Meu querido, pra isso existe o prefixo estampado no ônibus. Existe, a linha e os horários que podem ser anotados para fazerem eventuais denúncias, posso ir mais além, a placa do veículo pode ser anotado. Conheço as leis citadas.
      Transporte coletivo urbano é um serviço que o poder público deve oferecer ao cidadão, se ele não tem condições, repassa isso a empresas, que não comprem as mínimas, são descredenciadas.
      Transporte coletivo urbano não é mercado, diferente dos rodoviários. Você fala como se o sistema tronco-alimentador fosse algo ruim, ao contrário, é a melhor forma de solucionar problemas de mobilidade em ônibus. Comboio de ônibus não é inteligente.
      Curitiba é muito mais evoluída que o Rio neste sentido, caro Helder, em todos os pontos de ônibus há mapas com rotas das linhas, igual ao metrô, então você se guia pela linha e sabe pela cor o tipo de carro que usará.
      Uma coisa, você não me conhecer pra me julgar se ando de ônibus ou não. Ando de ônibus diariamente e em várias cidades. O Rio de Janeiro está atrasado na questão de sistema de integração. Reclama da padronização, táxi é todo padronizado, vai reclamar como? Táxi tem o número.Isso é coisa de quem está acomodado e não quer ver a pintura das empresas sumir. O turista, como você falou, não ligará pra empresa, e sim a linha e saberá que ônibus é municipal e qual é intermunicipal.

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  2. Né só no RJ que ocorre isso.

    Fizeram recentemente em Salvador isso, a padronização. Juntou 18 empresas em três, padronizou a pintura e ainda forçaram a mudança da catraca no fundo(que em Salvador ainda é assim) para a frente sem critério algum e sem consulta, ou no mínimo colocar adesivos indicando a mudança. Foi de forma forçada.

    Dois efeitos negativos: Explodiu os assaltos(os malacos entram no fundo, assaltam o povo e desce pelo fundo), as invasões(a porta traseira livre, é moleza), fora a indignação de misturar empresas diferentes no mesmo balaio, além da mudança da posição da catraca, tradicionalmente na traseira, que causa indignação. Se a do RJ mal vingará 20 anos, a de Salvador-BA canto essa pedra, mal vingará 10.

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    1. Juntou 18 empresas em três...sabe o que isso significa? Dificulta para o cidadão comum entrar com um processo contra a empresa em caso de acidente. Quanto mais mexem, mais fica claro o "esquema" entre poder público e empresários. É a troca de interesses entre eles. Só não enxerga ou admite isso quem for muito ingênuo ou tiver rabo preso com políticos.

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  3. A padronização dentro de critérios técnicos (que leva o passageiro a associar a cor à região servida ou tipo de linha), tem uma base legal (técnica). O que é imoral é o que tem ocorrido no país de quinze anos para cá, com prefeituras obrigando em contrato todas as empresas a adquirirem uma cor padrão sem critério técnico algum, normalmente associada à logomarca da gestão. Isso é usar o setor privado para marketing político/partidário, essa é a doença que está se alastrando pelo transporte municipal e metropolitano pelo país.

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  4. Já escrevi também em diversos artigos que a melhor forma de padronização foi a realizada em São Paulo em 1978, onde a secretaria de Olavo Setúbal criou a "pintura das saias". A cor da saia indicava a região operada, o restante do ônibus era livre para a empresa aplicar a sua cor, o que é um DIREITO de toda empresa, mostrar a sua marca. No Brasil lamentavelmente temos o histórico de um poder político coronelista (em todos os partidos, tanto da direita como da esquerda) que coloca os empresários (não só de ônibus)contra a parede: "se quer prestar seu serviço, tem que seguir o que está neste contrato, se não quiser, tem quem queira". Além desta forma intimidadora, tem ainda os "esquemas", a troca de favores entre poder público e empresas. Seguindo por esse meio, entenderemos o porquê de boa parte do segmento empresarial não questionar juridicamente estas "imposições sutis" do poder público.

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