Muita
gente ainda não sabe como a colocação de fardas nas frotas de ônibus,
com destaque aos logos das prefeituras, é prejudicial a qualidade dos
serviços de transporte municipal. Aparentemente soa o contrário, que a
colocação de uniformes serve para deixar claro que o poder público zela
pelo transporte de sua cidade. Mas o que se vê é o contrário: o
transporte piorando cada vez mais. Mas o que essa piora tem a ver com a
pintura padronizada?
Engana-se
quem pensa que a padronização de pinturas respeita totalmente o
caráter concessivo dos sistemas de ônibus, representando apenas um
embelezamento estético e identificação do município. Basicamente, quando
prefeituras e governos decidem padronizar frotas, elas estão querendo
dizer que as mesmas pertencem ao poder executivo que os controla. É uma
espécie de encampação em que o seu sustento financeiro vem das empresas e
não do poder público.
Com
isso, quem passa a administrar o transporte não são mais as empresas,
limitadas a ceder as frotas para o poder executivo e cuidar da
manutenção e da compra dos veículos. As empresas passam, através de
consórcios, a serem empregados das prefeituras, o que descaracteriza o
sistema de concessão, transformando em uma encampação enrustida.
E
o que são os consórcios? No caso, é uma espécie de "empresa", de
caráter público, onde se reúnem empresas que EM TESE, passam a operar
juntas. Mas não é o que acontece na prática, já que os sistemas de
ônibus continuam operando da mesma forma que antes, com a diferença do
aumento do poder executivo sobre o sistema e da pintura que caracteriza
esse aumento de poder.
Dá
para perceber que é um modismo, já que isso, segundo a lógica, em si
não melhora sistema nenhum. Acharam que é uma fórmula pronta e
resolveram adotar, acreditando que a adesão de muitas cidades a esse
tipo de sistema serve como atestado de êxito ao mesmo.
Mas
o que se vê é uma piora no sistema, pois há divergência entre as
empresas e os governos que gerenciam, resultando numa briga interna e
eterna em que quem paga o pato é a população que se utiliza do
transporte, proibida de fiscalizar diretamente o transporte por não
identificar mais a empresa que opera a sua linha. Com a padronização de
pintura, não só o poder executivo se torna mais poderoso como se
transforma no único meio capaz de "socorrer" a população no caso dos
constantes erros nas operações de transporte.
E
nós conhecemos nossos políticos. O que deveria ser mera representação
popular, a carreira política se transformou numa excelente fonte de
renda e profissão carreirista que transforma cada político em um
verdadeiro magnata, somando poder financeiro ao poder de decisão e o
prestígio que possui. Isso significa que entregar o sistema de
transporte a eles, de maneira integral, sem dar oportunidade da
população de fiscalizar diretamente a qualidade do transporte, é um
péssimo negócio.
Esconder
a identidade das empresas, não somente dificulta a identificação por
parte da população, como favorece a corrupção e várias irregularidades,
já que a não há identificação imediata, favorecendo que muitas coisas
aconteçam por "debaixo dos panos". E com o poder executivo das
autoridades devidamente aumentado, o que vai valer mesmo é o interesse
de prefeitos, governadores e seus assessores e secretários, seres
humanos tão falhos quanto qualquer outro, com sede de poder e com
perspectiva de aumentar o patrimônio pessoal de bens e dinheiro.
Não
defendo aqui o interesse de empresários do transporte, também seres
humanos falhos e com os mesmos interesses disputados pelos governantes.
Mas o que defendo é a o direito da população de conhecer com facilidade
as operadoras dos sistemas de transporte, para que ela gerencia
diretamente a qualidade do mesmo, sem ter que recorrer a autoridades de
índole duvidosa para tentar melhorar um sistema que só piora a cada dia,
optando pelo uso de fórmulas prontas como meio de resolver os problemas
que são diferentes em cada cidade.
Só
resta mesmo dizer que Jaime Lerner, o criador desse "samba do crioulo
doido" deve estar rindo a toa, pois foi com a intenção de ganhar
dinheiro vendando as suas ideias, que todos decidiram colocar uniforme
em ônibus. Agora só falta obrigar as pessoas a saírem das ruas
uniformizadas.
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