Em completo desprezo ao interesse público e mais preocupado em estabelecer uma promiscuidade entre o poder público e os empresários de ônibus, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, despejou nas ruas a primeira frota da atual fase dos ônibus padronizados.
Operados pela Sancetur, empresa paulista com atuação em várias cidades brasileiras, a frota está destinada a operar a Zona Oeste, desafiando as atenções de passageiros pobres, incluindo trabalhadores, idosos e deficientes, que terão que tomar muito cuidado para não embarcar no ônibus errado.
Quem presta provas de concursos públicos, então, têm mais um item para memorizar, e o prefeito carioca, pelo jeito nem está aí para ajudar a moçada para entrar no serviço público. Talvez Paes queira mesmo contratar influenciadores digitais, muitos destes ricos e que só andam de carros.
Paes quer dividir as linhas em "lotes", nome dado às zonas de atuação, e, além disso, pretende criar uma lógica autoritária do sistema de ônibus: dupla função do motorista-cobrador, rigor excessivo no cumprimento de horários sob pena de multas (e isso numa cidade com muitos congestionamentos de tráfego), chance de reformular linhas para extinguir a ligação Norte-Sul e forçar a baldeação, entre outros malefícios.
BOLSONARISTAS ADORARAM - Na primeira fase da pintura padronizada nos ônibus do Rio de Janeiro, os maiores apoiadores da medida eram também apoiadores antecipados de Jair Bolsonaro, e isso quando ele nem era considerado um político em ascensão.
A lógica militaresca e o caráter privado da medida, que fazia com que a identidade de cada empresa de ônibus fosse praticamente um segredo de "especialistas", causou a adesão de busólogos que, além disso, também sonhavam em compor o gabinete do então secretário municipal de Transportes, Alexandre Sansão.
FORMATO SATURADO - Apesar da defesa ferrenha de autoridades e tecnocratas, adotar a pintura padronizada nos ônibus se revelou um fracasso, uma medida caduca e que não traz soluções para o sistema de ônibus nas cidades. Colocar diferentes empresas de ônibus sob uma mesma identidade visual prejudica os passageiros, em especial a população mais pobre, e acoberta a corrupção empresarial.
A atual fase da pintura padronizada já surge sem o respaldo de antes, apesar do autoritarismo de Eduardo Paes em querer manter a medida. Os malefícios do modelo adotado entre 2010 e 2017 só trouxeram acidentes, sucateamento de frotas e falência de empresas que não correspondem ao grupo aliado de Paes.
Para piorar, já se fala que o atual modelo de ônibus padronizados abrirá caminho para o controle das milícias, que já estabelecem influência em várias atividades econômicas no Grande Rio e exercem tráfico de influência no Poder Legislativo fluminense. Ou seja, o "pesadelo" sobre rodas retorna num contexto de um Rio de Janeiro reacionário, violento e inseguro, trazendo sobrecarga no trabalho de motoristas de ônibus e confundindo os passageiros, que terão mais dificuldade para identificar o ônibus desejado.
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