Pular para o conteúdo principal

PINTURA PADRONIZADA REVELA PROMISCUIDADE DE PÚBLICO E PRIVADO

RENOVAÇÃO DE FROTA AGORA É USADA COMO PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA DA PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO.

As pessoas comuns, quando vão pegar um ônibus em uma cidade que adota pintura padronizada, não percebem a infinidade de desvantagens e problemas que essa medida traz, Além dos inúmeros atropelos legais - a pintura padronizada vai contra, por exemplo, artigos do Código de Defesa do Consumidor - , o fato de esconder empresas de ônibus sob um mesmo visual revela muitas confusões.

Em primeiro lugar, a confusão se revela ao caráter do sistema de ônibus diante desse véu de mesmice visual. Sendo um sistema de concessão, proíbe-se cada empresa de ônibus de ostentar sua identidade visual respectiva. O vínculo de imagem ao governo que a concede põe a concessão pela metade, uma vez que a imagem apresentada é a do poder político (prefeitura ou governo estadual) e não da iniciativa privada.

Dependendo das conveniências, o discurso das autoridades varia como bandeira ao sabor do vento. O discurso pode sugerir intervenção estadual, parceria público-privada ou mesmo a "manutenção do antigo sistema", só que com a tal "pinturinha".

E isso gera uma promiscuidade de público e privado, com empresários proibidos de exibir identidade visual, mas ganham maior peso eleitoral para eleger os governantes, em detrimento da vontade do povo. Os passageiros aceitam  a pintura padronizada passivamente, sem saber do caos que se tornou o transporte coletivo.

Ninguém combate a pintura padronizada e os passageiros, com muita coisa a fazer, sobrecarregam as mentes já congestionadas de tantos compromissos. Além das contas diversas a pagar, o cidadão tem que diferir uma Viação Ideal de um Rodoviário A. Matias. O estudante de concurso público têm que memorizar, além do pesado programa de estudo, o que é São Silvestre, Vila Isabel e Estrela Azul.

O pior é que, por trás de tudo isso, a pintura padronizada favorece a corrupção empresarial. Empresas mudam de nome, linhas trocam de empresa, e os passageiros são os últimos a saber. Linhas de ônibus são servidas por mais de uma empresa e ninguém percebe quem é que faz um serviço bom ou ruim.

Aliás, a coisa mais piorou do que melhorou. Falam tanto de uma Paranapuan, Pégaso ou City Rio (que agora é VG - Vigário Geral), mas ninguém percebe uma Verdun caindo aos pedaços. Ou, se percebe, não sabe qual é a empresa. E a própria contradição que as autoridades expressam quando tentam definir o sistema como "administração estatal", "parceria público-privada" ou "concessão pública para serviço privado" cria desentendimentos diversos.

Os empresários de ônibus, impedidos de exibir as respectivas identidades visuais de suas empresas, acabam sucateando as frotas, por entender que é a Prefeitura do Rio de Janeiro que ficou com a imagem. A Prefeitura, com um rigor descomunal, com mais autoridade e menos responsabilidade, exige demais das empresas e atribui a elas o compromisso de serviço.

Tudo isso é resultante de uma série de confusões, de caráter legal, administrativo, ético e tantos outros âmbitos. E os passageiros de ônibus correm risco, sem saber. Ninguém combate a pintura padronizada, nem a imprensa, com tanta facilidade que age quando a ideia é expulsar um petista do poder, chega a esboçar um único esforço, por pequeno que seja.

Com isso, a pintura padronizada, com a ênfase dada ao logotipo de prefeitura, "partidariza" o sistema de ônibus, causando prejuízo para os passageiros, que acabam recebendo um serviço ruim e precisam queimar a mente para diferenciar uma empresa da outra e, na hora de reclamar sobre o serviço ruim de uma empresa, esta põe a culpa em outra.

Não dá para sobreviver nesse corredor de confusão. O povo deveria reagir e a imprensa mais ainda, contra a pintura padronizada nos ônibus que serve de véu para a corrupção e a politicagem.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O site Companhia do Ônibus do Sidney Jr voltou!

      Após quase seis meses fora do ar, o site Cia de ônibus , do nosso amigo Sidney Junior voltou. Foram muitos os pedidos pelo seu retorno, o que foi prontamente atendido pelo autor do site. Vale lembrar que fizemos uma matéria sobre recuperação e downloads de sites extintos , onde este foi citado, uma vez que naquela ocasião, onde ele era considerado extinto, porém felizmente ressuscitou.         Sobre o Cia de Ônibus , é um site que conta através de fotos a história do transporte rodoviário do estado do Rio de Janeiro. Este possui um rico acervo formado por coleções do próprio autor, de pesquisadores e busólogos parceiros, alguns falecidos, como o saudoso Paulão, por exemplo.        Muita gente dizia que ele havia tirado o site por não concordar assim como nós do Fatos Gerais e amigos nossos, com a uniformização visual. De fato, Sidney Junior é contra a mesma e jamais a aceitou , porém nunca se confirmou se a  retirada do site foi de fato por conta disso, até por

EXIBIR LOGOTIPOS PEQUENOS NÃO RESOLVE PROBLEMAS NA PINTURA PADRONIZADA

As reclamações em torno de confusão e omissão das identidades das empresas de ônibus na pintura padronizada não são resolvidas com a simples exibição de logotipos de empresas nas latarias e janelas dos ônibus, assim como seus nomes nos letreiros digitais. A pouca informação das autoridades, que raciocinam o que chamam de "interesse público" através de simulações distantes da realidade através de programas de computador (Excel, Photoshop, Photopaint ou mesmo jogos como TheSims), não percebe que colocar logotipos de empresas de ônibus não diminui a confusão causada pela pintura padronizada. Os logotipos de empresas não raro se perdem ao lado de logotipos de consórcios e de órgãos municipais ou metropolitanos e, além disso, na correria do dia a dia, as pessoas, ocupadas nos seus afazeres, não vão ficar paradas para diferir uma empresa de outra. Se pararem, perderão o ônibus e poderão até se atrasar no trabalho. No caso dos letreiros digitais, a alternância de informaçõe

RETIRADA DE VEÍCULOS DE PISO BAIXO REVELA ESGOTAMENTO DO SISTEMA DE ÔNIBUS DE 2010 NO RJ

Estão sendo retirados os ônibus de piso baixo que circulavam no Grande Rio, principalmente nas empresas municipais, cerca de um mês depois do encerramento total dos jogos olímpicos de 2016. Só a Transportes São Silvestre anunciou que se livrará de sua frota especializada de CAIO Mondego e CAIO Millennium BRT. Os veículos são muito modernos para a modernidade tecnocrática e autoritária que domina o setor de transporte público, mas ecoa também numa minoria de busólogos reacionários que se comportam, nas mídias sociais, como se vivessem nos tempos do carro-de-boi, preferindo bajular políticos que lançam medidas impopulares do que pensar na realidade do público passageiro. Os veículos de piso baixo são caros, mas funcionais. Com motor traseiro, possuem um acesso com piso na altura da calçada, permitindo que pessoas com limitações na locomoção pudessem entrar nos ônibus sem dificuldade. Das empresas intermunicipais, a Auto Viação 1001 também se livrou de CAIO Mondego, não bastasse