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PADRONIZAÇÃO VISUAL NOS ÔNIBUS NÃO É IRREVERSÍVEL



Por Alexandre Figueiredo - Blogue Mingau de Aço

Os busólogos-pelegos, forjando profecia barata, tentaram assustar seus discordantes dizendo que a padronização visual dos ônibus cariocas é um processo irreversível. "Urubologicamente", tentaram dizer coisas do tipo "não adianta reclamar", "não dá para voltar para trás", "agora é tarde demais".

Queriam soar "proféticos", mas apenas tentaram intimidar com seu conservadorismo.

"Conservadorismo? Como assim? Conservadores não eram os que combatiam essa novidade?", perguntará algum desavisado.

Não. O conservadorismo está mesmo na "novidade" da padronização visual.

Primeiro, porque ela é "nova" no Rio de Janeiro, mas já existe em Curitiba desde o auge da ditadura militar.

Segundo, porque desde os anos 90 o conservadorismo ideológico usa o "novo" para esconder princípios e ideais velhos. O próprio neoliberalismo aposta sempre no "novo" como maneira de promover a exclusão social através de processos tecnocráticos e elitistas dos mais diversos.

Terceiro, todo processo de padronização visual do serviço de ônibus envolveu, de certa forma políticos conservadores. Jaime Lerner, tido como "deus da mobilidade urbana" para muitos incautos, é histórica figura da direita paranaense, originalmente ligado à ARENA.

E Lerner tem o mesmo apetite privatista voraz dos políticos tucanos investigados no livro A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr.. Lerner privatizou um banco paranaense, uma empresa de saneamento e várias estradas, e queria muito mais, não fossem os protestos dos trabalhadores do Estado. E depois Lerner foi posar de "socialista", numa fracassada filiação ao PSB.

Em São Paulo, o banqueiro Olavo Setúbal, ligado ao então prefeito Paulo Egydio Martins (que no passado tentou "udenizar" a UNE), implantou a padronização visual. Em Belo Horizonte, o PDS mineiro fez o mesmo. E, no Rio de Janeiro, foi Eduardo Paes ligado a um antipopular PMDB, mas originalmente ligado ao PSDB carioca, mais antipopular ainda.

A padronização visual nos ônibus, do contrário que se imagina, não é um processo irreversível. Ela pode ser cancelada a qualquer momento. Chega a ser risível que políticos e tecnocratas achem isso "tecnicamente impossível" porque a padronização visual é um processo aparentemente integrante do sistema de licitação previsto para vinte anos.

Balelas.

Não foi Deus quem impôs a padronização visual nos ônibus de uma cidade ou região metropolitana. E a padronização visual dos ônibus cariocas, por exemplo, não estava incluída no documento original da licitação de transportes coletivos do governo Eduardo Paes. Só foi incluída tardiamente, conforme manobras politiqueiras.

E, além disso, é muito cinismo dizer que é "ilegal" desfazer a padronização visual dos ônibus porque, dependendo da conveniência, ilegalidades piores podem ser cometidas, como a destruição de uma área ambiental na Zona Oeste carioca para a construção da via exclusiva para o BRT, denominado de "Ligeirão".

O próprio grupo de Eduardo Paes e Sérgio Cabral Filho são capazes de rasgar a Constituição Federal para satisfazerem seus interesses. Por coisas piores, são capazes de qualquer ilegalidade para benefício político e econômico deles próprios.

Incompetentes no trato com a coisa pública, os dois tendenciosos políticos, juntos, são capazes de acabar com o serviço público de Saúde ou de destruir um estádio de futebol de Niterói que é a única referência do antigo Estado do Rio de Janeiro, o Caio Martins. Coisa que não aconteceu graças a muita pressão política contra Cabralzinho.

DIVERSIDADE VISUAL VAI VOLTAR

É certo que, por enquanto, os passageiros cariocas terão que ter muita paciência para tentar reconhecer a diferença entre um ônibus da Matias e outro da Acari, um ônibus da Bangu e outro da Pégaso, um ônibus da Vila Isabel e outro da Braso Lisboa, ou um da Caprichosa com outro da Real.

A arrogância de autoridades, tecnocratas e dos busólogos-pelegos - que disparam até palavrões contra quem discordar de seus pontos de vista - ainda vai durar um tempo, cegamente confiantes com sua "cidadania de escritórios", acreditando que seus cálculos matemáticos vão resolver todos os problemas da sociedade.

Sabe-se que não resolvem, e diariamente a realidade desafia esses poderosos, quando a piora do sistema de ônibus do Rio de Janeiro está a olhos vistos e, comprovadamente, não será resolvida com compra de ônibus mais longos, com piso baixo e motor de marca sueca, paliativos que as autoridades só fazem para forçar a opinião pública a aceitar seus projetos retrógrados para o transporte coletivo.

Assim como não é dando presente para a criançada que um algoz se transformará num bom caráter, "presentear" busólogos com ônibus melhores, só para justificar um modelo tecnocrático de transporte, não vai tornar o sistema mais eficaz, mais justo nem o mais perfeito, sendo mais uma forma de neutralizar protestos do que de resolução de qualquer problema.

Por outro lado, Florianópolis, que abandonou a padronização visual há um bom tempo, também aderiu aos mesmos ônibus articulados, com piso baixo e motor de marca sueca que outras cidades como São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro só adotam de forma tendenciosa, para arrancar apoio da opinião pública e para plantar notícias sensacionalistas nas publicações sobre transporte coletivo.

A capital catarinense simplesmente permitiu a aquisição desses ônibus por uma natural tendência de mobilidade urbana, apesar do termo controverso que a palavra sugere e das discussões sobre a adoção obsessiva de BRTs nas cidades.

A diversidade visual dos ônibus voltará porque a identidade visual de cada empresa não é importante apenas pelo aspecto estético. A identidade visual é funcional, até porque é necessário aos passageiros reconhecer a empresa que serve uma linha, coisa que a padronização visual dificulta, mesmo com suas tentativas de "facilitar" a identificação (que não passam de tentativas de "facilitar" o que é complicado).

Com as mudanças ocorridas na sociedade - ninguém imaginaria a crise que o Big Brother Brasil, por exemplo, teria hoje em dia, e os combalidos tucanos outrora eram "matadores" nas urnas - , a padronização visual dos ônibus do Rio de Janeiro, uma "novidade" que não passa de um resíduo da ditadura militar, está se desgastando completamente, e se revelará ineficaz e prejudicial para os passageiros, principalmente gestantes, idosos, analfabetos, deficientes e qualquer um que esteja ocupado demais para reconhecer a diferença de um Internorte da Acari e outro da Ideal.

Até o momento, a realidade parece indicar o contrário, mas o "todo-poderoso" Alexandre Sansão, o "Ali Kamel da busologia", está com a batata assando, diante de tantos ônibus enguiçados, acidentados e até incendiados por conta de seu "moderno sistema de transporte".

Até um ônibus (da conceituada Braso Lisboa) enguiçou na frente dele, durante a inauguração de um corredor BRS em Ipanema. O secretário de transportes da prefeitura carioca esnobou, com sorridente arrogância, dizendo que isso é um "bom teste" para o corredor então inaugurado. Mas o RJ TV, que publicou a tal cena, teve que retirar o vídeo para evitar má repercussão.

A Rede Globo anda apoiando os ônibus fardados cariocas. Eles lembram, com seu design de embalagem de remédio (leia-se Berotec), seus áureos tempos de serviços à ditadura militar.

Comentários

  1. A Globo deve ter apoiado por ver semelhanças entre a pintura padronizada e o antigo design da Globo.com.

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  2. Como já comentei, farda da CTC-RJ durou até Janeiro de 1988, então...

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