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RETIRADA DE VEÍCULOS DE PISO BAIXO REVELA ESGOTAMENTO DO SISTEMA DE ÔNIBUS DE 2010 NO RJ


Estão sendo retirados os ônibus de piso baixo que circulavam no Grande Rio, principalmente nas empresas municipais, cerca de um mês depois do encerramento total dos jogos olímpicos de 2016. Só a Transportes São Silvestre anunciou que se livrará de sua frota especializada de CAIO Mondego e CAIO Millennium BRT.

Os veículos são muito modernos para a modernidade tecnocrática e autoritária que domina o setor de transporte público, mas ecoa também numa minoria de busólogos reacionários que se comportam, nas mídias sociais, como se vivessem nos tempos do carro-de-boi, preferindo bajular políticos que lançam medidas impopulares do que pensar na realidade do público passageiro.

Os veículos de piso baixo são caros, mas funcionais. Com motor traseiro, possuem um acesso com piso na altura da calçada, permitindo que pessoas com limitações na locomoção pudessem entrar nos ônibus sem dificuldade.

Das empresas intermunicipais, a Auto Viação 1001 também se livrou de CAIO Mondego, não bastasse a compra de apenas cinco exemplares, para uma empresa que atua em linhas estratégicas que ligam Niterói a importantes bairros cariocas, como Galeão (incluindo o Campus da UFRJ no Fundão), Copacabana, Gávea e boa parte do Centro carioca.

A retirada dos ônibus de piso baixo revela o esgotamento de um modelo tecnocrático de transporte público, no qual o poder das secretarias de Transportes é concentrado, deixando de ter uma simples função de fiscalizar para ser a de chefe do sistema de ônibus municipal ou metropolitano.

Numa comparação ligeira, é como se o vigilante de um batalhão do Exército tivesse poderes de um general. A figura do secretário de Transportes como dublê de empresário de ônibus traz uma série de desvantagens para a sociedade, num sistema de ônibus em que não se definem os limites de responsabilidade da iniciativa privada e do poder público.

Esse poder, que é expresso na pintura padronizada dos ônibus, que fazem com que a representação visual se subordinasse à prefeitura - em certos casos, ao governo estadual - e as frotas de ônibus ostentassem mais esse poder do que o das empresas concessionárias, que estão proibidas de mostrar suas identidades visuais, causando problemas para os passageiros.

A retirada dos ônibus de piso baixo revela então o esgotamento desse modelo, tardiamente implantado no Rio de Janeiro, em 2010, numa época em que se desgastava até em São Paulo e Curitiba. Um modelo sensacionalista, marcado apenas por ônibus de tipos avançados que só servem para a propaganda política das autoridades.

Daí que ônibus articulados, com ar condicionado ou com piso baixo não eram adotados visando sua funcionalidade. Serviam apenas como um gancho para autoridades implantarem medidas amargas, como a pintura padronizada nos ônibus, a redução de frotas em circulação e a redução de trajetos visando o Bilhete Único.

Portanto, é um sistema de ônibus que representa mais a supremacia de um poder político e tecnocrático do que de um modelo de melhoria de serviço. Tanto que muitas das qualidades do sistema de ônibus pré-2010 no Rio de Janeiro acabaram, enquanto os defeitos que existiam então só aumentaram.

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