Os recentes protestos contra o aumento das tarifas de ônibus de São Paulo, organizado pelo Movimento Passe Livre, tirou o grupo do limbo, depois que os acontecimentos derivados do golpe político de 2016, ou mesmo precedentes como as jornadas de Junho de 2013, fizeram o grupo ser confundido com o Movimento Brasil Livre, surgido há sete anos.
O MPL reassumiu uma pauta progressista e continua se manifestando, desta vez contra o reajuste no valor de R$ 4,30 para R$ 4,40. O grupo reivindica transporte gratuito para estudantes e também luta para que seja investigada a corrupção político-empresarial envolvendo sistemas de ônibus.
A atuação é louvável, mas o Movimento Passe Livre comete um gravíssimo erro de não lutar contra a pintura padronizada nos ônibus, tida como uma "verdade absoluta" para o setor. Entendida como um suposto meio de disciplinar os sistemas de ônibus, através de uma lógica moralista e militar vinda do período ditatorial, a pintura padronizada nos ônibus causa dor de cabeça para os passageiros na hora de pegar um ônibus para ir ao trabalho.
Passageiro de ônibus não é turista para ficar pegando ônibus errado a todo momento e gastar Bilhete Único como se estivesse na Disney. Há pessoas ocupadas com o que fazer no trabalho, gente estudando para concursos públicos e provas escolares, gente cheia de compromissos pessoais, gente com muitas contas a pagar, e elas ainda são obrigadas a diferenciar um ônibus de outro, porque todos têm pintura igualzinha.
A ocultação da identidade visual de cada empresa de ônibus, além de aumentar drasticamente os custos das passagens - na Grande Belo Horizonte, isso reflete na hora de uma empresa transferir ônibus semi-novos de uma cidade para outra ou de uma zona para outra na capital mineira - , principalmente se considerarmos a burocracia política para liberar um ônibus novo, ela permite a corrupção político-empresarial que beneficia os envolvidos e precariza o serviço.
Cidades como Florianópolis, São Paulo, Curitiba e Brasília contam com casos de corrupção que se agravaram sob a lona dos ônibus visualmente padronizados. Os escândalos só não vêm a público porque seus empresários acabam "negociando" com a grande imprensa para, ao menos, minimizar a situação, só noticiando matérias "mornas" para fingir imparcialidade, escondendo casos mais graves.
O transporte se mediocriza sob o aparato dos ônibus padronizados e as renovações de frota se retardam, porque precisam da burocracia que inclui autorização das secretarias de transportes, que viraram dublês de gestoras de empresas de ônibus - sob a máscara política dos "consórcios" - , para renovação de frotas. Enquanto isso, irregularidades podem ser permitidas, como deixar que a documentação fosse vencida, em certos casos.
O que o Movimento Passe Livre deve fazer é encampar a luta contra os "ônibus iguaizinhos" e pedir que cada empresa de ônibus tenha sua própria identidade visual, porque é somente isso que deixará o transporte coletivo mais transparente. Liberar a diversidade de pinturas, com cada empresa de ônibus exibindo seu respectivo visual, não acaba com a corrupção no setor, mas permitirá ao passageiro comum a facilidade de identificar a empresa deficitária, em qualquer aspecto.
Portanto, esperamos que o MPL passe a lutar contra a pintura padronizada nos ônibus, em suas próximas manifestações. Isso é de máxima urgência, porque envolve o interesse público.
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