A EXPRESSO GUANABARA NA SUA FUTURA CASA, O RIO DE JANEIRO.
Uma das coisas mais insólitas sobre a unificação das empresas do Grupo Guanabara é que, com o processo de extinção de várias empresas, apenas uma delas não teve a sua extinção declarada, até porque será a única que, aparentemente, não terá sua estrutura operacional nem sua identidade visual afetada.
A maior extinção do Grupo Guanabara é justamente a Expresso Guanabara, do Ceará.
Isso mesmo. Tudo indica que a Expresso Guanabara cearense será extinta, embora nada mude operacionalmente, porque a marca "Expresso Guanabara" continuará ativa no Nordeste brasileiro e os serviços não serão afetados.
A verdade é que, todavia, a Expresso Guanabara já tem até CNPJ no Rio de Janeiro, cidade que se tornará a nova sede da empresa que absorverá as antigas subsidiárias Util, Sampaio, Brisa, Rápido Federal, Real Expresso e Expresso. As propagandas da nova Guanabara já dão ênfase a lugares do Grande Rio, como a Ponte Rio-Niterói e a Rodoviária Novo Rio.
Isso se explica porque os herdeiros de Jacob Barata, empresário do Grupo Guanabara falecido pouco tempo atrás, não têm o espírito empreendedor do patriarca, e, portanto, preferem concentrar os negócios no Rio de Janeiro. Esta é a lógica do Grupo Guanabara se tornar um complexo carioca, e a Expresso Guanabara tende a ser uma empresa de ônibus carioca.
Custará caro para os herdeiros de Jacob Barata gerir os negócios do Grupo Guanabara de Fortaleza. No fundo, a antiga Expresso Guanabara já tinha um jeitão de "estrangeira", por conta do empresário fundador, apesar de nascido no Pará, ter feito carreira no Rio de Janeiro.
A nova Expresso Guanabara terá a estrutura primordial das antigas Util, Sampaio e Brisa. Na prática, será um pseudônimo da Util, como, por exemplo, a Expresso Rio de Janeiro tornou-se o pseudônimo da extinta Transturismo Rio Minho. Os "novos" nomes, curiosamente evocando a dicotomia "Guanabara x Rio de Janeiro" do período 1960-1975, foram escolhidos porque os respectivos donos viam nestas denominações uma marca comercial "forte".
Não dá para gerir trajetos como Brasília para Porto Alegre e Niterói para São João Nepomuceno a partir dos escritórios da capital cearense. A questão não é o Grupo Guanabara "também" ter escritórios no Rio de Janeiro ou em São Paulo. A verdade é que, como os herdeiros de Jacob Barata querem concentrar seus negócios num só lugar, a unificação do Grupo Guanabara terá como sede o centro de negócios da família empresarial, que é o Rio de Janeiro.
Trata-se de uma lógica empresarial. Não dá para os busólogos inventarem hipóteses para manter o mito da "empresa de ônibus nordestina dominando o país" porque não tem cabimento. A nova Expresso Guanabara, ao que tudo indica, será carioca, e só falta um anúncio oficial que irá formalizar essa tendência, já que, transformando a Expresso Guanabara numa empresa carioca, isso irá economizar os custos dos descendentes de Jacob Barata.
Além disso, a nova Expresso Guanabara precisa fazer frente aos grupos empresariais do Sudeste, em especial a Itapemirim, que, agora conhecida como Viação Nova Itapemirim, transferiu sua sede de Cachoeiro do Itapemirim para Santo André. Se uma empresa mudou de sede deslocando-se de cidades com relativa proximidade, por que a Expresso Guanabara continuará "comandando de longe" a disputa pelos trajetos
PEGADINHA
Uma canção em homenagem à Expresso Guanabara, interpretado por Wesley Safadão e Alanzim Coreano e composto por Jujuba, Juninho Compositor e Playboy dos Hits e que surgiu sem o nome "Guanabara" - o refrão original falava "pega o buzão e vem" - , foi uma grande pegadinha relacionada à unificação do grupo.
Os dois intérpretes, Wesley e Alanzim, já fazem um som pseudo-nordestino no qual o verdadeiro povo nordestino não se sente representado. O som é o piseiro, um dos inúmeros pastiches do baião que, sob o rótulo de "forró", é visto com desconfiança pelas classes populares do Nordeste brasileiro, que veem nessa "cultura" uma paródia depreciativa.
Os dois cantores têm uma aparência que lembra os jovens ricos da Zona Sul carioca que adotam um comportamento "nordestino" caricato, tipo A Praça é Nossa (famoso humorístico paulista), como se estivessem aprendido a falar como nordestinos ouvindo "Pelados em Santos", dos também paulistas Mamonas Assassinas. "Pega o Guanabara e Vem" mexe mais com os corpos, corações e mentes dos jovens do Baixo Gávea, Alto de Pinheiros e similares.
O suposto "hino da Expresso Guanabara" é, na verdade, um réquiem da empresa cearense que, a partir de 2025, atuará como uma mera filial da empresa carioca. O novo Grupo Guanabara terá apenas escritórios regionais e suas respectivas garagens, como Brasília, São Paulo e Fortaleza, e mesmo que a Expresso Guanabara preserve todas as operações da empresa cearense, sua atuação administrativa assumirá um papel mais secundário e subordinado à sede carioca.
O Rio de Janeiro decidirá até na renovação de frota da Expresso Guanabara cearense, até porque está mais próximo dos fabricantes de ônibus e, portanto, fará os orçamentos para a aquisição de novos ônibus para a gigantesca frota da empresa unificada.
Portanto, é uma lógica empresarial. Se as antigas empresas do Grupo Guanabara serão oficialmente extintas em 2025, visando simplificar os negócios dos herdeiros de Jacob Barata, seria estratégico "pegar o Guanabara" para "vir" para a sede da família empresarial, o Rio de Janeiro, para comandar os negócios.
Portanto, tudo indica que a Expresso Guanabara cearense irá desaparecer junto com a Util, Real Expresso e companhia. A Expresso Guanabara que circulará nas estradas nordestinas será a carioca. Está na hora de criar um novo hino para o Grupo Guanabara, bem mais no espírito do Sudeste brasileiro, a não ser que a "gente bonita" continue aceitando o som pseudo-nordestino do piseiro.
Comentários
Postar um comentário