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VIAÇÃO ITAPEMIRIM A CAMINHO DA EXTINÇÃO


Não colou a obsessão em fazer a Viação Itapemirim, cheia de irregularidades, virar "refém" de um prestígio histórico que não existe mais. Com dívida bilionária desde que seu braço aéreo, a Itapemirim Transportes Aéreos (ITA), foi cassada pela Justiça, a empresa de Cachoeiro de Itapemirim, que já teve tempos gloriosos, não conseguiu resistir usando a "história" como desculpa.

Depois que seu último ato foi uma armação jurídica na qual a Itapemirim, usando o nome "Kaissara", alugaria serviços da Util (União Transporte Interestadual de Luxo) para os trajetos de São Paulo para o Rio de Janeiro e para Curitiba, desta vez a administradora judicial do Grupo Itapemirim, a EXM Partners, entrou com pedido de falência da empresa capixaba, encerrando assim 69 anos de história.

A Viação Itapemirim começou a ter problemas nos anos 1990, quando "inchou" seu patrimônio de linhas, dando início a uma crise que pareceria resolvida por volta de 2018, quando a administração de Sidney Piva e seus sócios Adilson Furlan e Karina Mendonça prometia revigorar a empresa, com uma renovação gradual de frota com ônibus alugados de empresas de fretamento, que ganhavam a identidade da Itapemirim, que voltava a destacar o seu logotipo em fonte Microgramma.

Tudo parecia ser uma tática inteligente, com uma frota de semi-novos de empresas de fretamento que estavam em excelente estado de conservação. Leilões de carros antigos eram divulgados em canais do YouTube e pareciam reforçar o plano de recuperação da empresa.

Houve até mesmo uma frota "black", com a pintura preta e o logotipo e a linha pintada na "saia" em cor amarela. Esta pintura "escura" era uma repintura de menos custo dos ônibus da empresa de fretamento Industrial, de Piva, mas parecia ser um grande atrativo visual como um serviço diferenciado da Itapemirim, que chegou a ter o nome de "Dream Bus".

Em seguida, veio a notícia de uma companhia aérea, a ITA, também com aviões semi-novos, mas que prometia ser um diferencial em transporte aéreo de passageiros. A ideia parecia boa, pois a empresa aérea iria alimentar a recuperação econômica da Itapemirim, injetando dinheiro para sanear as dívidas e obter lucro. Até que irregularidades começaram a ser denunciadas.

Piva e seus sócios desviaram dinheiro para obter bens pessoais. Funcionários da empresa aérea e de ônibus tinham salários atrasados. Passageiros eram tratados com descaso. Mais tarde, a Justiça apreendeu ônibus e aviões como pagamento de dívidas. Aos poucos, ônibus da Itapemirim tinham que ser vendidos para diversas empresas, da Roderotas a pequenas empresas de fretamento com nomes como "Papa-Léguas" e "Novos Rumos".

Os fãs da Itapemirim acreditavam na recuperação da empresa. No entanto, a dívida bilionária trazia outra realidade, a de uma empresa agonizante que tentava resistir. As linhas eram gradualmente transferidas para outras empresas, como São Paulo x Floriano (Guanabara), São Paulo x Curitiba (Penha), São Paulo x Governador Valladares (Emtram), Rio de Janeiro x Cachoeiro de Itapemirim (União) e Vitória x Uberlândia (Águia Branca).

A presença da Itapemirim diminuiu aos poucos, mas a Justiça, desde janeiro, ordenou a suspensão dos serviços da empresa. Rumores de que um lobby na ANTT para blindar a Itapemirim surgiram. Houve busólogos evangélicos que falavam que "Jesus vai socorrer a Itapemirim". Apesar disso, a Itapemirim, que perdeu seu banco de investimentos por decisão da Justiça, não conseguiu resolver sua crise, que agravava completamente.

Em dias de muitos passageiros em rodoviárias, era ilustrativo ver guichês da Itapemirim e seu "alter-ego" Kaissara estarem vazios. A frota final da Itapemirim mostrava, em maioria, carros velhos com mais de 15 anos de fabricação, ao lado de alguns modelos Marcopolo G7 de 2011-2013 e uns poucos mais recentes. Mas esses carros foram apreendidos pela Justiça ou tiveram que ser vendidos para saldar parte das dívidas. Garagens da Itapemirim em várias partes do Brasil também foram fechadas.

O último ato da Itapemirim "ressuscitar" nas costas do Grupo Guanabara, alugando a Util para operar as linhas da capixaba, embora tenha sido comemorado por alguns busólogos, era uma atitude irregular e suspeita, na qual a Util era usada como trampolim para a volta da empresa capixaba.

Mas agora, com a EXM Partners pedindo na Justiça a falência da Itapemirim, a empresa que já chegou a ter serviços como Tribus e Rodonave agora chega ao fim, depois de uma lenta decadência na qual a empresa insistia em sobreviver de maneira desonesta, "refém" de sua história e seu passado glorioso, que há muito deixaram de existir.

Restam agora aos busólogos continuarem postando o grande acervo de fotos da Itapemirim nos últimos anos que foram registradas e que ainda se tornarão um acervo inédito de uma empresa que oficialmente fechará suas portas nos seus 69 anos de existência, encerrados de maneira vergonhosa e triste.

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