Numa sociedade medíocre, que desaprendeu a exigir e se encanta facilmente por qualquer show super produzido de um cantor de meia-tigela qualquer cantando músicas ruins, o milagre do BRT veio a calhar.
Não que o BRT fosse ruim. Ele é bom, mas em alguns casos e algumas localidades. Há lugares onde ele funcionou. Há lugares inclusive onde ele deu certo, mas foi retirado por causa de má administração, como em Salvador, que em 1990 teve implantado o excelente e bem sucedido (mas muito mal administrado com o passar dos anos) projeto Transporte de Massa de Salvador, que se tivesse durado, teria economizado os gastos que a capital baiana teria com o atual BRT e tiraria a necessidade da implantação de um metrô, que só depois de uma década terá 10% de seu percurso pronto para funcionar.
Mas o BRT não pode ser tratado como única e melhor solução para o transporte de todas as cidades, que precisa urgentemente acabar com o excesso de automóveis nas ruas. Está mais do que na cara que ele está sendo implantado como modismo, de maneira irresponsável por gente que não é especialista, mas finge ser. E muita gente acaba confiando nas promessas e atitudes dessas falsas autoridades.
Muito dinheiro pra nada
O brasileiro se acostumou a usar mais os olhos e menos o cérebro. Para ele, tudo que faz bem aos olhos é sinônimo de eficiência. Em muitos casos se provou o contrário.
Além disso, as pessoas também habituaram a criar associações. Como se uma coisa justificasse a existência de outra: paquera depende de festa, música depende de dançarinos, futebol só deve ser comemorado aos berros e transporte de qualidade tem que ter articulado em vias exclusivas. São associações falsas que colocam o dispensável como essencial.
Mas se esquecem que os problemas do transporte não dependem de gigantes articulados para melhorar. Odeiam micrão? Pois lamento dizer que eles é que são o transporte adequado para as grandes cidades. Leves e ágeis, eles são mais adequados para trafegarem pelas muitas ruas de cada metrópole. São menores e não tem a beleza e imponência dos pesados e lerdos BRTs, mas com planejamento, dá para aproveitá-los com eficiência para que não gerem problema.
Construir vias exclusivas custam muito dinheiro. Além disso tem a desvantagem de limitarem a circulação de ônibus para determinadas áreas. O ideal seria que mantivessem o sistema como está, mas replanejando os itinerários, observando as reais necessidades das áreas envolvidas nos percursos e suas demandas.
Mas isso não agrada os defensores do BRT. Fazer planejamentos exige muita pesquisa e raciocínio para adequar as linhas as reais necessidades de um município. Além disso, não é espetaculoso, não é algo que encha os olhos e "mostre serviço" a leigos. O brasileiro é fascinado por espetáculos de todos os tipos e na busologia, somente um articulado imenso pode fazer a festa de quem gosta de shows mirabolantes.
E cá para nós, melhorar o sistema de fato significa diminuir os automóveis nas ruas. Algo que um imenso articulado nunca conseguirá resolver. O que vai resolver isso é dar muita educação às pessoas, fazendo-as entender que nenhum ser humano se torna melhor que o outro só porque tem uma automóvel registrado em seu nome.
Mas, infelizmente, a população brasileira, cada vez menos racional e cada vez mais sedenta por grandes espetáculos, como será de fato a copa de 2014, razão de ser desses projetos caros e inúteis, pede muito mais farra e falsas alegrias do que a resolução definitiva dos seus problemas.
Como todos fazem: faltou dinheiro? Esgoto a céu aberto? Patrão estressado? Minha casa caiu? Não faz mal. Peguem uma cerveja e vão ver televisão.
Pode ser que o gol feito por um analfabeto e uma gigantesca minhoca de aço rodando em uma estrada possam "salvar" os brasileiros de seus problemas insolúveis.
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