AV. PRES. VARGAS, NO RIO DE JANEIRO, EM DOIS GOLPES - Um foi o golpe militar de 1964, outro da padronização visual dos ônibus cariocas. As alegações são as mesmas de um e outro.
Por Alexandre Figueiredo
A curitibanização dos ônibus no Brasil, projeto mastodôntico e megalomaníaco que visa mostrar ônibus fardados para turistas estrangeiros, sob clara propaganda de suas respectivas prefeituras ou governos estaduais, decai na proporção simétrica à sua persistência, depois que os noticiários mostraram os desastres desse sistema de ônibus sensacionalista e tecnocrático.
Sensacionalista, porque tenta compensar a monotonia da padronização visual que oculta empresas de ônibus e confunde os passageiros comuns - afinal, nem todo mundo é especializado em busologia - com compras periódicas de ônibus novos, sobretudo articulados ou com piso baixo e com chassis de marcas suecas.
Parece bem-intencionado, mas a "facilidade" com que se renovam frotas com ônibus desses portes nesse sistema de visual padronizado e poder concentrado nas Secretarias de Transportes, só nos faz lembrar do famoso ditado popular: "Quando a esmola é demais, o santo desconfia". E a renovação aconteceu logo após anunciarem que o transporte coletivo de Curitiba estava à beira de um colapso.
Devido ao "surto" tendencioso de renovação de frota dos ônibus de Curitiba, já surge até uma piada de que a renovação de frota iria resolver qualquer problema na capital paranaense. Se existe problema de saneamento básico, resolve-se comprando centenas de ônibus Volvo biarticulados.
Se existe problema de segurança, resolve-se comprando outras centenas. Se o salário dos professores curitibanos é baixo, então compra-se mais novos ônibus e o problema está resolvido. E assim vai.
DIREITISMO POLÍTICO
A começar pelo seu precursor, o urbanista e ex-político Jaime Lerner, pode-se garantir que nenhum político que se comprometeu com a padronização visual dos ônibus do Brasil está relacionado com políticas progressistas.
Costuma-se acusar a então prefeita Luíza Erundina, então do PT e hoje do PSB, de ter promovido a padronização visual dos ônibus de São Paulo. Trata-se de um grande erro. Quem realizou a iniciativa foi o falecido banqueiro do Itaú, Olavo Setúbal, quando era prefeito da capital paulista, bem antes que Erundina.
Setúbal era ligado a Paulo Egydio Martins, ex-prefeito paulistano e ex-governador paulista, que havia sido líder estudantil pela UDN, num breve período direitista da UNE. Egydio, ainda vivo, é filiado ao PSDB. Já Setúbal foi da ARENA e no final da vida estava ligado ao DEM.
Quanto a Jaime Lerner, ele era um dos alunos-modelo da UFPR comandada pelo reitor Flávio Suplicy de Lacerda, que como ministro da Educação do general Castello Branco fez o acordo MEC-USAID dentro de um pacote de medidas que revoltou os estudantes brasileiros, pois previa até mesmo a substituição da então clandestina UNE por uma entidade estudantil subordinada à ditadura militar.
Lerner, quando lançou seu "moderno" modelo de transporte coletivo - que, agonizante, ainda tem que prevalecer até, pelo menos, 2016, sob a paciência de milhares de passageiros - , era prefeito de Curitiba ligado à ARENA e o Brasil vivia ainda o auge do período ditatorial. E seu compromisso com as forças armadas é tal que Lerner se inspirou nos ônibus da Marinha e do Exército para esboçar o visual dos ônibus curitibanos.
PENSAMENTO ÚNICO
O pretexto é o mesmo da ditadura militar. Disciplina, organização, desenvolvimento. O Secretário de Transportes transforma-se num dublê de empresário de ônibus, num suposto xerife que "disciplina" o transporte coletivo.
A padronização visual visa "amarrar" as empresas dentro de outros critérios, como tipo de serviço de ônibus e tipo de ônibus utilizados. As empresas "desaparecem" dentro de um padrão de cores que é feito para confundir os passageiros. Essa visão tecnocrática, defendida por uma classe média conservadora e por gente que se disponha a se iludir com tais embustes, mostra o quanto isso representa o pensamento único sobre rodas.
A ditadura militar também quis "padronizar" os corações e mentes dos brasileiros, alegando "melhor disciplina" para afastar "aventureiros" e "agitadores". Alegava que a diversidade de pontos de vista causava desordem e caos, por isso todos os esforços de se fazer prevalecer o pensamento oficial da direita civil-militar brasileira.
Mesmo os alegres implantadores da padronização visual, o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes e seu secretário "todo-poderoso" Alexandre Sansão, se encontram dentro de um grupo político que, no conjunto da obra, acumula mil desastres.
Da prisão de bombeiros grevistas ao descaso que fez explodir botijões de gás num restaurante defronte à Praça Tiradentes, passando pela lenta carnificina de pacientes mortos na espera e nos deslocamentos dos hospitais, o grupo político de Eduardo Paes e do governador Sérgio Cabral comprova seu completo desprezo pelo interesse público. Parecem governar apenas para executivos de Madri e Nova York.
TIRANDO O CORPO FORA
Depois que este blogue denunciou os desentendimentos entre busólogos cariocas, quando parte deles passou a defender os interesses de Eduardo Paes e companhia, a arrogância destes busólogos "chapa-brancas" repercutiu de forma que eles passaram a ser duramente criticados por colegas de hobby mais lúcidos.
Com isso, a postura dessa minoria chapa-branca tornou-se enrustida. Uns tentam agora dizer que a padronização visual dos ônibus cariocas não é decisão da Prefeitura do RJ, tentando desmentir fatos óbvios. Outros dizem que não é armação política. Outros dizem apenas que "não há outro jeito, a padronização visual veio para ficar", entre outras posturas que hesitam entre o conformismo e a acomodação e o claro desprezo ao sofrimento dos passageiros.
Pois pegar um ônibus no Rio de Janeiro pareceu algo tão complicado quanto prova de concurso público. Fala-se até para os candidatos de concurso público pegarem táxi em vez de ônibus para não "queimarem" as cabeças no momento das provas.
A coisa está tão feia que nota-se mesmo nas pessoas uma aflição maior. Cariocas tentando ver se o ônibus do consórcio Santa Cruz que chega à Estação Cidade Nova é o Pégaso da linha 398 ou o Campo Grande da linha 397, cada um destinado a um percurso diferente para um lado do bairro do Campo Grande, que é dividido pela linha ferroviária.
E, da mesma forma do colapso dos ônibus de Curitiba e dos acidentes constantes dos ônibus de São Paulo - agora chamados de "mata-cariocas" - , mostra-se a decadência desse "moderno" modelo de sistema de ônibus, que só mesmo medidas autoritárias podem fazer prevalecer e permanecer por muito tempo.
Especialistas e busólogos independentes começam mesmo a pôr em dúvida se o projeto de transporte coletivo implantado no Rio de Janeiro em 2010 vá mesmo durar os 20 anos previstos no contrato.
A padronização visual só confundiu o povo, e a concentração de poder do "poderoso" Sansão só desnorteou as empresas de ônibus, fazendo declinar o serviço e aumentando drasticamente os ônibus enguiçados e sucateados que rodam nas linhas cariocas. Mesmo empresas conceituadas como Real e Matias já demonstram uma queda drástica nos seus serviços, com seus carros semi-novos sucateados, fazendo barulho de caminhões de entulhos.
Não é à toa que a padronização visual dos ônibus e a lógica da Secretaria de Transportes concentrar seus poderes no sistema de ônibus, através da formação política de consórcios, têm o claro apoio de gente como José Serra e José Roberto Arruda, célebres figuras do esgoto político nacional.
A julgar pelos seus defensores, mais solidários a Paes, Cabral, Ricardo Teixeira e Joseph Blatter do que ao povo carioca - reduzido a uma mera massa que deve obedecer e aceitar os "sábios" desmandos das autoridades e tecnotratas - , o sistema de ônibus brasileiro passa por uma decadência que ainda renderá muitos alertas. Pelo menos para prevenir os prováveis desastres que esse sistema tecnocrático e politicamente prepotente pode causar dentro de pouco tempo.
Fonte: Blog Mingau de Aço do colaborador Alexandre Figueiredo
Passados mais de 19 meses da deflagração da Operação Caixa de Pandora, ainda não existe denúncia formal contra o ex-governador José Roberto Arruda. Não é o caso de a mídia perguntar por quê?A pergunta não é feita por uma razão muito simples: como houve um pré-julgamento feroz do caso, no qual Arruda foi absolutamente condenado pela imprensa, esta se recusa a fazer o mea culpa. Na verdade, todos os jornalistas sabem que as imagens de Arruda recebendo dinheiro de Durval foram gravadas antes de ele ser governador. Qual, então, foi o crime que ele supostamente cometeu? Envergonhada por ter sido instrumento da farsa, a midia age como o peru e enfia a cabeça no chão, para não ter que enxergar e admitir o monumental erro que cometeu.
ResponderExcluir